quinta-feira, 21 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 07)

Spaulding redobra suas atividades
O Rev. Spaulding esforçou-se por aprender a língua portuguesa, de modo que no espaço de alguns meses já podia usá-la para conversar e para anunciar o Evangelho. Não se circunscreveu, porém, a cidade. Viajou, conforme sabemos, ate a Serra dos Órgãos, Iguaçu, e numa excursão de barco, com o Rev. Kidder, ate a região de Macacu, na província do Rio de Janeiro, distribuindo folhetos e exemplares do Novo Testamento assim como da Bíblia.
Pelo visto, a obra conduzida por Spaulding ia muito alem da simples pregação verbal em recintos fechados, tais como salões alugados e lares de amigos. É certo que, devido a carência de recursos financeiros e por amor a verdade, aceitara o encargo de agente da Sociedade Bíblica Americana, de sorte a suplementar a manutenção da família e do próprio trabalho espiritual.
Nas suas relações com o povo fluminense, constatou o inolvidável missionário haver grande interesse pelas Escrituras, tanto que as remessas recebidas via Estados Unidos, se esgotavam em breve lapso de tempo. Não era, pois, para estranhar, a agitação criada no seio do clero, incitando-o a provocações e a represálias, com prejuízo a sementeira iniciada em hora tão feliz por Spaulding e Kidder.
A ultima de três cartas, datada de 14 de dezembro de 1841, ao Rev. Charles Pittman, secretario correspondente da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal, por Spaulding, é bastante esclarecedora nesse sentido. Vale a pena traduzir alguns dos seus trechos. Em um dos mesmos, assim se expressa o autor: “A influencia de nossos esforços entre o povo do pais pode ser inferida, ao menos em parte, do recente folheto imoderado e abusivo publicado aqui pelo Bispo de Centúria agora residindo em um dos conventos do Rio, no qual diz: Pasmo ao ver a avidez com que tais Bíblias corruptas são recebidas e lidas por leigos ignorantissimos, e por alguns cléricos ainda, se possível é, mais ignorantes, etc.”. E Spaulding prossegue: “Mas posso assegurar-lhe e a todos os amigos da Bíblia que não seria preciso que ele limitasse os seus comentários mal-humorados aos leigos ignorantes e ainda mais aos clérigos ignorantes, pois senadores e deputados da nação, presidentes das províncias, oficiais do governo e da marinha, e do exercito, doutores, advogados, negociantes e homens de todas as camadas com gratidão não fingida receberam esse Livro, e é esperado que o Autor Divino concordará em que seja para eles e suas famílias uma rica fonte de instrução, admoestação e conforto”. Vê-se, assim, quão extensa era a divulgação das Escrituras e o desejo de muitos em conhecê-las.
Spaulding acrescenta logo adiante as razões porque os Protestantes admitem apenas como canônicos determinados livros do Antigo Testamento. Isto é, excluindo os Apócrifos, a exemplo da versão Judaica. Menciona depois alguns escritores do passado e o bem conhecido Concilio de Laodicéia, ao qual diversos daqueles eminentes padres estão ligados. E quanto a Bíblia, objeto das contestações, o argumento é simples, mostrando que o tradutor para a língua portuguesa, era nada menos que o sacerdote católico-romano, Antônio Ferreira de Figueiredo. Os cristãos-evangélicos não tinham, por conseguinte, motivos para se arrependerem. Ademais, afirma ainda Spaulding, é incompreensiva a atitude da Igreja no Brasil, cuja tolerância com respeito as obras de Voltaire, de Rousseau e de outros Deistas salta aos olhos, muito embora irreligiosas e ate opostas ao Cristianismo. Acham-se leitores em todas as classes, e com relativa facilidade se podem comprar nas maiores livrarias. Mas, quão diferentemente sucede em se tratando da Bíblia, pois “de uma a outra extremidade da nação” o clero levantava o povo contra aqueles que a espalhavam, taxando-os de hereges, e ao mesmo tempo dizia que o Império estava sob a maldição do céu, caso as autoridades não detivessem a obra nefasta “dos missionários metodistas” – Contudo, as circunstâncias tinham mudado bastante, e mudariam ainda mais, de sorte que os governantes se deixaram conduzir pelo bom-senso, ao invés de levados por paixões cegas e arbitrárias.
Além desse trabalho, caracterizado pela colportagem e pela pregação a viva voz, Spaulding dava assistência espiritual aos marinheiros, no domingo pela manhã, e durante a semana visitava, quando possível, os enfermos na Santa Casa, sobretudo os marujos e os cidadãos estrangeiros. Como não existisse capelão efetivo para atender aos homens do mar, o comodoro Nicholson convidou-o para dirigir o culto a bordo da fragata “Independência” na base naval do Rio de Janeiro. Grande parte do seu tempo já se achava tomado então, mas os amigos insistiam a que, também, abrisse uma escola, modelada pelo sistema inglês, na qual se ensinasse desde ler e escrever ate filosofia “e outras disciplinas”. Pois essa seria de igual modo, uma excelente forma de acesso ao povo e um bom serviço. No começo pesaria financeiramente, mas depois manter-se-ia por si mesma, diziam esses conselheiros. Tal alvitre, depois de ponderado, foi aceito e, assim, em fins de junho ou começo de julho de 1836, Spaulding instalou-se a Rua do Catete. Em breve a matricula alcançou 15 alunos, sendo 5 do sexo feminino, oscilando as idades entre quatro e catorze anos. Era necessario, por conseguinte, a vinda de mais obreiros, de que deu conhecimento as autoridades da Igreja, nos Estados Unidos, e ao mesmo tempo solicitou dois professores, sendo um para os meninos e uma senhora ou senhorita para as meninas. Tendo em mira, tambem, a expansao da obra, revelou a conveniencia da aquisição de um terreno e a construção nele do indispensavel edificio.
Alcançavam mais longe os olhos do Rev. Spaulding. Antevia um pais grande perante si e habitado por um povo bom, apesar de dominado por superstições, tolhido pela ignorancia, sem saude fisica bastante e carente da verdadeira vida em Cristo. E isto o levou a recomendar a Igreja-Mãe o envio para o Brasil de um observador perspicaz, a fim de viajar pelo território e verificar "in loco" onde se deviam instalar escolas e novos pontos de evangelização. Realmente, na historia do metodismo, estas duas iriam caminhar juntas por toda parte: a instrução e a pregação do Evangelho.
Novos obreiros em ação
Em resposta as solicitações do Rev. Spaulding, a Sociedade Missionaria arregimentou mais gente. A 13 de novembro de 1837 sairam de Boston com destino ao Rio de Janeiro, no "Avon", o Rev. Daniel Parisk Kidder e a esposa, Mrs. Cynthia Harris Kidder, a filhinha, o Sr. R. McMurdy e a Srta. Marcella Russel, irmã de Mrs. Kidder, e que, depois, tornou-se a Sra. McMurdy. A viagem foi penosa, sobretudo para Mrs. Kidder, que permaneceu de cama durante os cinquenta e seis dias da travessia. Afinal, foi grande o regozijo de todos quando puderam abraçar os Spaulding e não menor os destes, porque os recem-chegados alem de patricios, eram companheiros de ideal. A obra metodista recebia, agora, um novo estimulo na pessoa dos novos missionarios, ansiosamente aguardados.
O Rev. Spaulding hospedou-os em seu lar. Entretanto, a familia Kidder seis meses depois achou mais conveniente mudar-se para Engenho Velho, local onde residia a maior parte dos norte-americanos e ingleses, os quais estavam sem assistencia religiosa. Por esta razão, um serviço de culto se instalou ali em carater permanente, ate quando o Rev. Kidder, um ano mais tarde, empreendeu algumas viagens demoradas.

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

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