domingo, 3 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 04)

A presença do Rev. Pitts no Rio de Janeiro

O desembarque do pessoal que viajara no "Nelson Clark", realizou-se no dia 19, após a costumeira inspeção pelas autoridades alfandegarias. Nosso distinto passageiro trazia cartas de recomendação, dadas respectivamente pelo presidente americano Andrew Jackson e pelo estadista Henry Clay, as quais, certamente, facilitaram a obra que tinha em vista. É provavel, outrossim, estar munido de credenciais de Igreja. O certo é que, logo a chegada, encontrou alguem que o recebeu e o apresentou ao Rev. Fivers, missionario da London Missionary Society, o qual, com a esposa e uma sobrinha, estava a caminho da Índia. Almoçaram todos com o Sr. Thompson, piedoso comerciante inglês, estabelecido na cidade. Além do repasto, o hospedeiro proporcionou também ao enviado da Igreja Metodista Episcopal, horas agradaveis e muitas informações. Este senhor costumava dirigir uma reunião devocional no próprio lar, nos sabados a noite, e outra mensalmente, a favor da obra missionaria. Pitts foi convidado para oficiar a do sabado em que ali passou, e assim principiaram os seus primeiros contactos. Em carta ao Secretario Correspondente da Sociedade Missionaria, conta algo de suas observações. Já se achava no Rio há duas semanas e chegara a conclusão de que, efetivamente, Deus abrira amplamente uma porta para o Evangelho neste Pais. Os privilégios concedidos pelo governo do Brasil eram mais amplos do que esperava de uma nação católica. Permitia o culto aos adeptos de outros ramos cristãos, em suas moradias ou em edificios proprios, desde que sem a configuração de templos, mas isto pouco importava, escrevia Pitts, porque Deus é Espirito e pode ser adorado em qualquer lugar, pois não habita em casas feitas por mãos humanas. Ate aquele momento, já havia pregado sete ou oito vezes em residências particulares e organizado uma classe (ou congregação) com pessoas "que desejavam fugir da ira vindoura, e libertar-se de seus pecados". Denominou-se "nosso pequeno grupo de metodistas". Enquanto não chegasse o obreiro para conduzi-la, seus membros permaneceriam unidos, cada um animando ao outro e, para tanto, ofertou-lhes alguns hinários e exemplares da Disciplina da Igreja Metodista Episcopal. Também já pedira o envio de certos livros, com idênticas finalidades. Um dos membros era professor em florescente escola inglesa e se oferecera para distribuir a literatura. Nenhuma lei proibia a sua divulgação. O Novo Testamento, sobretudo, devia ser posto ao alcance do povo, pois o recem-chegado ministro informou-se de que muita gente queria ler as Escrituras. Despacha, então, para os Estados Unidos, um exemplar da tradução do Pe. João Ferreira de Almeida para ser examinado e reimpresso. Recomenda, outrossim, a publicação de porções do Novo Testamento, como fazemos atualmente. Residem na cidade, prossegue Pitts, muitos americanos e ingleses que aguardam ansiosos a vinda do futuro pastor metodista. Também a comunidade alemã esta interessada em que a Igreja Luterana lhes envie um ministro. Parece que a Seaman's Friend Society, dos Estados Unidos, encaminhará para cá dentro em breve um obreiro afim de dar assistencia espiritual aos marinheiros. A Igreja Episcopal já mantem trabalho, aqui, informa ainda o missivista. Não se esqueceu o arguto Rev. Pitts de obter outros dados. A população da cidade passava de 200.000 almas. O numero de igrejas é de cerca de vinte, sem contar uns dez conventos. O catolicismo tem perdido muito de seu prestigio, tanto assim que as procissões já não tem o brilho de outrora, o imperador Pedro I reduzira o numero de sacerdotes e transformara o convento de São Bento em arsenal do governo. O atual Regente (em vias de ser eleito), referia-se ao Pe. Diogo Antonio Feijó, ainda que sacerdote, era favorável ao casamento dos padres. Também na Assembléia e no Senado pontilhavam homens inteligentes. Por isso, concluia, o Rio de Janeiro oferece ótimo campo para a obra do Senhor Jesus. E então, dá mais estes sabios conselhos: "O missionario que for mandado deve vir imediatamente e começar logo o estudo da lingua portuguesa. Que seja um homem de vivo zelo, paciente como Jó e que encarne a verdadeira filosofia Cristã. Que ponha todos os cuidados nas mãos do Senhor Jesus e que pregue com o Espirito Santo mandado dos ceus que é o que eles desejam aqui, e não um mesquinho enganador filosofico, com uma visão superficial da santidade do coração, que será tão inficaz como o raio frigido da lua sobre uma montanha de gelo". Numa ultima missiva, enviada de Buenos Aires, repete mais ou menos as mesmas informações e torna a repisar as qualificações do pastor que há de vir: "Espero que o ministro que possa vir tenha mais prudencia do que agressividade para com a Igreja Romana. Assim agiu Paulo em face das superstições da Grécia. Se for cortes e respeitoso para com a ordem estabelecida, ser-lhe-á permitido pregar sem ser molestado. Agora a porta esta aberta. Se demorarmos poderá fechar-se".


Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalvers Salvador - Imprensa Metodista

Nenhum comentário:

Postar um comentário